A data exata eu não sei informar, mas acredito que tenha sido no final do primeiro semestre de 2018. Em uma das rotas de casa para o trabalho, tenho o privilégio de passar pela região da Pampulha. Adianto que foi lá onde tudo começou.

Aconteceu em uma daquelas manhãs, depois de ver tantas pessoas caminhando ou correndo. Recordo-me de ter soltado a seguinte frase:

– Um dia, vou participar da Volta Internacional da Pampulha.

Na hora, a garotinha se ajeitou na cadeira, parecia um pouco desconfiada, mas logo retrucou:

– Correndo, pai? Coitado!

Ela nem esperou uma explicação. Não tive tempo nem de abrir a boca direito.

– Eu duvido. Você não dá conta de brincar com a gente direito.

A verdade. Ela só falava a verdade, mas aproveitou para rir à vontade. Pensou que eu estava de brincadeira, que seria mais uma daquelas falsas promessas. Mas, como fiquei sério, ela mudou o tom da conversa:

– Já que é assim, te desafio a correr a volta, então!

– Desafio aceito!

Claro que, naquele momento, eu não tinha a mínima ideia da aventura que tinha pela frente. Como aceitar o desafio de correr 17,8 km sem nunca ter trotado 1 km inteiro? Guardei aquilo só para a família, porque, se dissesse para outras pessoas, com certeza iriam me chamar de louco.

Maluco ou sem noção, não tinha como desistir. Eu havia prometido à minha filha. E tinha certeza de que, se não cumprisse, ela sempre iria tocar na derrota.

Com aquele quadro de sedentarismo e a balança em pé de guerra com minhas medidas, você já deve imaginar para onde tive que voltar para dar os primeiros passos rumo ao desafio.


 

 

Um jeito na vida assim de uma hora para outra?

Quando o assunto é atividade física, no meu caso, nada aconteceu tão rapidamente. Enfrentei alguns tropeços, especialmente na época em que o médico recomendou a musculação.

Baixa imunidade, resistência frágil, alimentação irregular e o retrato do sedentarismo foram sinais que me indicaram a necessidade de procurar uma academia perto de casa. Nem preciso dizer o quanto admirava o ambiente da academia.

Era fevereiro. Uma academia recém-inaugurada, com todas aquelas promessas encantadoras. A conversinha mansa dos proprietários e lá fui eu, comprar um pacote anual, mais em conta. O desconto era interessante. Os benefícios, infinitos.

Surfei um pouco na onda do verão, vésperas de carnaval, e a academia estava lotada. Com certo esforço, ia três vezes por semana. O resultado começou a aparecer, mas, lá por abril, peguei dengue. Com os sintomas, claro, sem chance de fazer qualquer atividade física. Uma semana de molho.

Outra semana sem frequentar a academia. Depois, ia, no máximo, duas vezes por semana. Minha carga horária de trabalho aumentou e ficou fácil inventar desculpas para abandonar a musculação. Não é o final da história ainda, mas a moral você já conhece: tornei-me um patrocinador daquela empresa.

Do efeito sanfona ao retorno ao perfil de sedentário foi um pulo. Desde então, nunca mais paguei por um pacote promocional. O pessoal até fica irritado comigo, mas peguei ranço desses “descontos”.

Antes de voltar a caminhar, reforço que continuo não gostando da academia. Só vou por necessidade e para continuar firme no propósito, evitando complicações que vou tratar ao longo da nossa jornada.


 

Vídeo de estreia, recomeço, mencionado lá no post  "Na ponta da caneta"



 


Por longas semanas fiquei sem irrigar a terra da criação de histórias. Juntei três espécies de adubo que encontrei na beira da estrada da Obrigação e foi ficando nisso até que um dia:

– Esterco no saco de linhagem apodrece, menino. Tem que botar em volta do pé, a planta agradece – raiou Tina.

De tempos em tempos, ela olhava para as ervas daninhas saindo no tapa, disputando a derrota das verduras, mas quase nada dizia.

– Quando cê criar coragem de enfrentar esse mato vai dar valor à terra desse pomar.

Morava uma verdade naquela insistência. Pena que demorei para reconhecer o tom com que Tina falava.

– Não adianta contratar nenhum jardineiro ou lavrador. Cê que tem de deitar a enxada aí.

Além de ser dona da verdade, Tina dificilmente perde os frutos de uma semente lançada no solo de nossas ideias. A mulher tem sabedoria de rainha. Foi assim que frutificou decisões importantes na vida do Branco, quando o moleque desistiu lá de tirar a carta de moto. E do outro filho, com uma única pergunta, o abandono definitivo da bebida.

A relação com a terra exigia novas experiências sensoriais. O canto do sabiá-laranjeira aguardava os ruídos da destruição, o bico voraz do jacu que ia levando de eito o último canteiro da hortaliça guerreira.

O alecrim silvestre, preguiçoso no galho, desanimava-se para a transformação em vassoura e espalhar seu perfume no terreiro. Assim, as plantas, os bichos todos acenavam para o fim, de menos a terra.

Tina sabia mais do que ninguém: “isso não pode continuar assim.” Sentamo-nos à mesa para um suco e ela prometeu que me ajudaria a recuperar boa parte da plantação. Ainda estava em tempo.

– Cê precisa dos frutos dessa terra, carece de enredar as histórias. Cê num aprendeu outras formas de lidar com as agruras da vida, menino.

Aos poucos, de muitos cantos de louvor à terra, seguindo as instruções daquela senhora, alfabetizei-me nas fases da lua, ouvi as linhas e os segredos do plantio, a aguar as sementes em cada ciclo. E só muito tempo depois é que penso ter chegado à festa da primeira colheita.

– Das lições sobre a terra das histórias que aprendi com a senhora, passo a ver minha jornada como uma flor de acerola. Aparentemente mínima, invisível, porém responsável por três temporadas de frutos no ano. 

– Cê já pode se preparar para a próxima estação. Tá pronto pra voltar, menino. Tá pronto!

 



Até o ano de 2018, a atividade que mais me causava preguiça era a tal da caminhada. A ideia de colocar uma bermuda, uma meia, calçar um tênis e ir para o parque caminhar parecia uma das atividades mais sem noção do mundo.


Outra verdade: atividade física nunca foi meu forte. No futebol, minha habilidade como gandula é, no mínimo, questionável. Sempre tive um certo interesse pelo basquete, mas, assim como no vôlei, acreditava que, além de altura, era preciso tino e jeito para a coisa.

Como centenas de crianças das décadas de 80 e 90, influenciadas por astros como Bruce Lee, Jean-Claude Van Damme e Jackie Chan, cheguei a sonhar que seria um praticante de kung fu. Delirava com as cenas de kickboxing e, para minha surpresa, cheguei até a fazer aulas experimentais de Taekwondo.


Certa vez, meu irmão mais velho, depois de assistir a uma de minhas “lutas” com o primo na rua, comentou: “Para você, que não é de briga, o melhor é praticar o esp-2 (corrida de alta velocidade). Para não apanhar tanto, você tem que ser ligeiro”.


Ali residia a verdade: adoro ficar longe de brigas e confusões. Só que isso não mudava o fato de eu ser desajeitado, e até hoje ter uma coordenação motora digna de palco de comédia.


Talvez, seja por conta dessa carência de habilidade com praticamente todos os esportes que desenvolvi uma certa repulsa à caminhada como atividade física. Inocentemente, achava que já havia caminhado demais na vida, afinal, ao longo de toda a educação básica, ia e voltava para a escola a pé.


Por que tanto ranço com a caminhada? Em palavras, reproduzo a seguir uma espécie de fotografia dos pensamentos que eu tinha naquela época. “Oh, que raiva desses médicos que vêm com esse papo de fazer caminhada. Quer saber? Não tenho paciência para esse troço, não. Caminhada é perda de tempo, gente. E a máxima dos preconceitos: caminhada é exercício para velhos e pessoas que não têm nada o que fazer na vida.”


Reconheço que essas imagens dos meus antigos pensamentos podem até assustar. Confesso que não consigo imaginar que pensei assim por tanto tempo, mas, como prometido, não vou mentir. Tive que registrar isso em palavras.


A esta altura, peço ao Universo que perdoe todas as pessoas que praticam caminhada, aquelas que eu tratei com tanto preconceito. Perdão também pelas desculpas esfarrapadas que inventei para não caminhar com as pessoas mais próximas, especialmente minha esposa e minhas filhas.


Falando em filhas, e antes de contar como comecei a caminhar, sempre me recordo de um episódio em dezembro de 2015. Acredito que tenha sido meu primeiro grande sinal de sedentarismo: eu ficava ofegante só de abaixar para amarrar o cadarço do tênis.


Naquele fim de ano, enquanto brincava com minha filha, percebi que caminhar rápido estava ficando muito difícil. A verdade, que demorei a aceitar, era que meu preparo físico estava bem perto da nota zero.


Era hora de dar um jeito nesse capítulo da minha vida.


 


Esta postagem é uma espécie de carta para daqui a uns dois anos. Desejo que lá, na frente, tal publicação tenha alcançado as configurações de um COMPROMISSO PÚBLICO.


A princípio, pensei em guardar todas as inquietações apenas para mim; porém diante da força da mensagem que temos a oferecer a esse movimento nas redes sociais, senti-me impulsionado a compartilhar tais ações com toda comunidade.


Caso esteja lendo este post, sinta-se como parte de um ecossistema em prol do incentivo à leitura, à escrita literária, ao voluntariado, à prática de atividades físicas.


É IMPORTANTE SABER:


1) A página onde você está lendo este texto completará 12 anos em setembro de 2025. Neste ambiente publicarei crônicas semanais, contos, notícias, a série de postagens intitulada “Farelo na Pista” (as primeiras experiências de corrida de rua) e outros textos. 


2) Além deste canal, você poderá nos acompanhar no Instagram pessoal: @farelodequiat. Lá temos reels com leitura de poemas, dicas de obras literárias, flashes da vida de escritor e produtor cultural, um pouco das atividades de corrida de rua e mais um montão de coisas. Bora seguir a gente por lá?


3) Outra forma de conhecer um pouco mais sobre nossas atividades é seguir o perfil do instituto Livros em todo lugar @livrosemtodolugar. Nesse canal, você ficará por dentro do nosso trabalho nas comunidades: arrecadação e doação de livros, palestras, oficinas, saraus e muito acesso à literatura.


4) Por fim, mas não menos importante, com traços de desafio, a NOVIDADE: por conta do tamanho dos vídeos e profundidade dos assuntos, estamos partindo também para o Youtube. O primeiro vídeo foi ao ar no domingo, 09/03/2025. Sem nenhuma edição, sem qualidade na imagem. Acredito que vale somente pelo conteúdo.


Por enquanto, vai ficar assim mesmo. Comecei a investir nas redes com as ferramentas que tenho e nada mais. Com o tempo, a gente aprimora, avança e melhora. Por isso mesmo conto com sua ajuda: faça críticas aos formatos, sugira temas, dê conselhos... venha para somar!   


Bora embarcar nessa jornada conosco?

Um forte abraço e

10 de março de 2025

 

Contagem, 14 de julho de 2024

 

Querida Amanda Ribeiro,

 

Espero que vocês tenham chegado bem em casa; que o motorista do Uber não tenha se perdido nos becos e esquinas da quebrada. O trânsito já estava  preparado para o retorno, pouso e pausa das poetas?

Nessa manhã disfarçada de inverno, um monte de outras perguntas chegaram com tudo sobre a última noite. E, claro, venho compartilhar algumas... quem sabe a gente não dá conta de deixar registrado, em palavras, o último encontro?

O II SARAU do Livros em todo lugar foi, para você e para a atriz Thaís Senra, uma espécie festa da literatura?

Será que conseguimos dar a devida atenção a todos que marcaram presença, em especial, a vocês que atravessaram a cidade (mais de 18 km)?

A dança na abertura do evento e o varal com textos da literatura contemporânea?

E Adélia, que não trabalha na rádio, lá toda contente de prosa com os versos de Cora Coralina?  

Será que algum convidado se importou com a porta da geladeira de livros em constante movimento?

As perguntas são muitas e infindas. Por isso, a fim de evitar mais um mini podcast no seu celular, resolvi lhe escrever esta carta.

Não estou nem aí para o que o povo vai dizer desse gênero (antigo)  que nos permite versar sobre um encontro de celebração da arte. 

Ah, escrevo-lhe do meu Caderno Azul, mas sobre isso ficará para outra correspondência, combinado?

Poeta amiga, hoje, eu só quero mais uma vez lhe dizer: MUITO OBRIGADO!

Muito obrigado por nos presentear com sua presença, poesia e participação!

Um forte abraço e

... farelos por aí ...

 

PS: você é uma artista cidadã solidária (ACS), reconhecida pelo Robin Hood da Quebrada, vulgo Alfredo Lima

    


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