Página 16
Para
encarar o próximo mar, resolvi escrever um pouco sobre o que me atrai ou talvez
mais sobre aquilo que me distrai.
Descobri
recentemente que há elos inesquecíveis do meu outro eu no corpo presente.
E
por que dessa insistência em juntar os elos desconhecidos da minha pessoa?
Essas partes querem se conhecer e a única forma de urdir as lacunas, colar as
pelas é escrevendo.
A
vida tem ateado tanto caos. Pensar tem sido pretexto para não existir.
Página 25
Queria
que a decadência fosse um quadro gigantesco. Um quadro pintado por todos os
sobreviventes deste tempo.
Quem
sabe assim, pintando as fraquezas, dúvidas, dívidas e derrotas, a gente não se
sentiria mais HUMANO?
Página 34
Exposição
da cicatriz, da falta, é o que defendo no momento. Eu cansei da vida cheia de
filtros, contornos, impulsionada pelo gesto mecânico, vazio, da pressa dos
ângulos editáveis do mercado.
Por
que no meio de tantas mentiras ser sensato virou motivo para descrédito,
repulsa e cancelamento?
Qualquer
linha mais substantiva da arte provoca reações catastróficas: “Isso vai causar mimi!”
Nossa! Esse tema está pesado demais! Aí você foi brabo”, entre outras
expressões passageiras da superfície.
Em
que mundo sobrevive esse povo? Quer dizer que a arte só pode ser leve? Eis o
templo das gourmetização, do romantismo que só agrada a maioria. E nesse rolo
de desinformações, de valores esquizofrênicos o que gera status, escala
negócios é o pacote das ilusões: vida
fácil, dinheiro fácil, fama a qualquer custo.
Só
o resultado importa?
Página 52
Posso
estar enganado, mas sinto que este tempo implora por um pouco mais de
expressões sinceras, por manifestos pela união de todas as classes, credos;
carece de protestos pelo direito à vida digna... de todos!
Ou
posso apenas estar muito enganado mais uma vez. Você também está se sentindo
assim... na contramão dos extremos?
Série
de textos: Caderno Azul
... farelos por aí ...