Eis uma das façanhas que
só as mulheres conhecem e conseguem praticar com desenvoltura, maestria.
Para mim, uma descoberta?!
Descobri? Aliás, passei a
por sentido, a lançar um pó sobre aquelas ações todas, muitas vezes, invisíveis
em muitos lares brasileiros. Confesso que isso tudo só me ocorreu por conta da
pandemia. Uma lição. A necessidade.
Eu descobri. Assim,
sinceramente... posso dizer que serei um eterno aprendiz, mas isso importa e
festejo a descoberta em si.
Eu descobri que para
cumprir as tarefas, as obrigações que nos consomem, somem com nossas energias,
as mulheres brilham no “Jogo do Enquanto”.
Ah, para você entender,
apresento-lhe meus primeiros passos, após a caminhada diária:
enquanto a água do café ferve,
tiro o carro da garagem, volto e preparo o coador, o filtro, coloco uma colher
de pó. Enquanto o café está sendo coado, exalando o cheiro que desperta todas
as manhãs que ainda moravam em meu corpo, ouço uma canção sagrada de Bach;
enquanto lavo as vasilhas
do lanche ou jantar da última noite, ouço uma série de conversas sobre assuntos
do universo da sexta arte e sonho um dia me encontrar disponível às ideias
desprezíveis do mundo da pressa;
enquanto os outros
moradores buscam se atualizar diante dos noticiários tão monótonos, tão
marrons, verifico se os protocolos das aulas daquele dia estão corretamente
preenchidos, leio as mensagens que nos chegam em caixas.
Eis um pouco das manhãs!
Acredito que não seja assim difícil esboçar meu desempenho no “Jogo do
Enquanto”, ao longo do dia; mas lembre-se de que sou um aprendiz.
Por que temos dificuldade
de reconhecer que esse jogo é real? Por que o tratamos como arranjos
invisíveis, dentro de uma casa?
Quero continuar aprendendo
a respeito desse jogo. Quem sabe a escrita não vai me ensinar?
Ilustração: Marci N.