Eu até
estava apreciando a ideia de deixar o cabelo crescer. A Menina do Baú Vermelho
estava festiva com a ideia. Claro que meu cabelo nunca terá aqueles os cachos cheios
de brilho. Ela puxou as madeixas, a cor dos olhos, o jeito da mãe (Graças a
Deus por isso).
Meu
cabelo já foi de tudo nessa vida. Ainda criança, com o rosto carregado daquelas
pintinhas miúdas, meu cabelo era da cor de ferrugem. Chamavam-me de russo como
consolo. Depois que fui entender a diferença entre russo e ruço. Os primos e
amigos dos tempos do primário foram bastante generosos. Meu cabelo era
encardido.
Com o
tempo ele ficou castanho, depois atingiu um tom quase preto. Um tom caminhando
para o escuro. Isso durou pouco também, pois antes dos vinte anos, uns fios
brancos vieram para morar de vez na minha cabeça. E aqui se multiplicaram de
forma assustadora. Como consolo do cunhado, sempre ouço: “Pelo menos você ainda
tem cabelo”, uma gargalhada e, na sequência, ele alisa com orgulho parte da
careca.
Já
pintei meu cabelo de amarelo, na empolgação de um Carnaval dos anos 90. Tive a
honra de zerá-lo, quando passei no vestibular, lá no início do século (Acho que
nem existe isso mais de raspar a cabeça) Fui de uma ponta à outra.
Mais
recentemente, no contexto da pandemia, cheguei a propor que só cortaria o
cabelo com o retorno das aulas presenciais, ou com a descoberta da vacina.
Assim, variei a relação com esses fios, ao longo desses anos que brotaram em
2020. A experiência capilar chegou ao fim.
Bem,
mas não acabou a esperança na descoberta oficial da vacina para a Covid-19. O
desejo de retorno às aulas presenciais em 2021 está cada dia mais vivo, cheio
de cores.
Assim,
em um exercício de confiança, fé, esperança, quero lhe fazer um convite: que
tal se a gente pudesse cultivar uma quinta estação? Sim, aqui, entre a
primavera e o verão, e se criássemos essa estação?
Uma
estação que refletisse as cores de todas as outras, que juntasse todos os fios
para (reconstruir) os laços familiares que se perderam, romperam ao longo
desses anos polares. Uma estação que venha renovar nossa paciência para com o
outro, que nos permita ouvir, antes de julgar, compreender, antes de atacar,
agredir com ofensas. A sincera estação da mesa, da roda de conversas, dos
sorrisos e da liberdade para falar das coisas boas desse mundo, dessa vida.
Para entrar
nessa estação, já vou cortar o cabelo, mudar o visual. Bora?!
Nas
palavras do grande Vander Lee, que Deus o tenha em seus acordes e letras:
É hora
de cuidar dos nossos jardins!
Abs,
...
farelos de uma nova estação por aí ...