Com o desenrolar dos fios que compõem
o enredo da vida, a gente acaba por compreender os limites diante de cada arte.
Sempre deixo claro ao universo:
– Não desenho nem casa com pauzinho. Nos meus
traços, todo ser humano não passa de um boneco engraçadinho.
Quando o assunto é
dança, não dou conta dos essenciais “dois pra lá/dois pra cá”. Na valsa, então?
É cada pisão!
Nenhum dos outros
irmãos, nenhum levou jeito para a dança.
João Londrina
domina a arte da carpintaria, as tramas da engenharia. Sikin andou demonstrando
talento nas esculturas de argila. Ele também encanta os familiares com som da
gaita.
Adelson é quem
podemos chamar de música em pessoa. Desconfia-se de que ele é um conjunto de
arranjos disfarçados de gente. E isso vem de longe.
Ainda miúdo,
tirava sons nos cavacos de madeira que encontrava na subida da ladeira. Luthier.
Ele compõe pandeiro, tambor, kalimba e caixa de folia para artistas do mundo
inteiro.
Adelson é a testemunha
de que eu só consegui uma única vez. Claro, foi por influência dele.
Rodoviária.
Dezembro de dois mil. O primeiro ano do mano na Grande BH. De dia, a rua,
éramos camelôs. De noite, os estudos. Um ano sem o lazer do fim de semana, um
ano longe de nossa mãe.
Não sabemos se foi
distância das origens, o milagre que encontrou no irmão do meio o desejo, a
vontade cantar.
Só sabemos que
naquele dia entrei certo, exato ... no tom. Adelson até se assustou. Ele também
não acreditava. Seu irmão estava afinado! O ritmo, o encontro das vozes, um
Oceano em harmonia.
Tinha de ser na
rodoviária? Tinha de ser mágico? E foi assim a única vez que não irritei as
pessoas ... cantando.
... farelos por aí
...