Um pouco antes das 09h, corri ao sacolão. E lá,
exatamente no caixa, uma garota roubou a cena.
A pedido da mãe, ela pegou o pacote da promoção,
completando as compras. Voltou para a fila, retirou o cartão de uma pequena bolsa,
informou que o pagamento seria no débito.
A mãe, toda orgulhosa da atitude da pequena,
acompanhava todo o processo. Os clientes pararam para assistir à desenvoltura daquela
garotinha nos seus 07 anos.
– Meus parabéns! Você é muito esperta!
– Muita obrigada! Eu que cuido das finanças da minha
mãe.
Todos os clientes riram e elas saíram carregando as
sacolas.
Eu ainda nem tinha feito o pagamento da minha pequena
compra, quando ouvi:
– Moço! Moço! Eu te conheço!
Nesse tempo com máscaras, vira e mexe a gente acaba
não reconhecendo alguns moradores da quebrada. Acontece.
– Você é o moço dos livros! Eu estudei teatro com sua
mulher.
De fato, eu não me recordava. Parece que a pandemia já
dura uma década. A gente se perde ou perdeu. Não é mesmo?
Assim que se reapresentou, ativei todas as suas
atuações no palco e nos bastidores da Cena. Por alguns segundos, um enredo se desenrolou
nas páginas da minha memória.
A menina contou que mudou de casa, está morando em um
apartamento agora. Ao final, passou o novo número do telefone da mãe, que
aguardava no outro lado do passeio.
– Quando começar o teatro você pede a professora para
ligar para minha mãe?
– Claro!
– Promete mesmo, moço?
Aquela antiga aluna mudou o ritmo do meu dia. Aquela
menina, provavelmente não sabe, mas no início daquela manhã trouxe um feixe de
luz para toda família. Ela foi o assunto do dia, tema especial para essa crônica
com tinta de recomeço.
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