– Veja bem, meu amigo, como essa deusa nos sorri! Bela amante e sinuosa. Como eu a amo!
Grita o homem alinhado, com seu terno branco leite, a seda cai muito bem ao corpo negro e forte, fica em riste o peitoral jovem. O lenço vermelho tem um caimento impecável, o chapéu se posiciona sobre os fios, enrolados pretos fios. Os sapatos, embora gastos pelo samba jambo, se vão polidos, andarilhos cansados. E o odor? Exala jovialidade marginal, perfume manga rosa que a Europa não há de comprar! Já não era mais o cargueiro da manhã. Era um príncipe da mocidade, sorriso cálido e gentil.
– Bate palma, meu amigo! Que hoje o banquete é
de se fartar!
Ia lá ele, por vielas velhas, ruas mortas e
vivas, negras e brancas, boêmias e egocêntricas. Cantando uma cantiga de
malandro, algo como “laralauê larauê lará”, um sambinha mole como as conversas
que ele levava às moças de alma virgem.
– Um banquete, meu amigo! Todas as moçoilas trajando seus vestidos apertados, suas saias bufantes que submergem o canal dos
anjos, seus seios comprimidos contra o marfim daqueles espartilhos! Meu amigo!
Aqueles pezinhos doces, aqueles colos cheirosos. Compadre! Que banquete! Os
lábios frágeis, hein! A espera de um grande amor para segredar seus maiores
medos e malícias! Jorge que mora na Lua sabe! Como eu as amo! Todas elas!
Maria, Carolina, Eugênia, Angélica, Sebastiana, Catarina, Fátima, Camila!
E lá vai ele, sambando com seu terno leitoso
de seda pelas ruas dos amantes, amando todas e nenhuma, saboreando a madrugada.
Salve a malandragem.
Texto: Yasmim Ferreira
Crédito
da imagem:
https://www.dw.com/pt-br/do-samba-ao-funk-a-voz-dos-exclu%C3%ADdos/a-36527894
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