A última prova havia me deixado moído, arrebentado. Entendi que era hora de rever algumas questões. Do contrário, ia perder para minha filha, e o Desafio ficaria para o ano seguinte. Isso eu não admitia de jeito nenhum!

 

Olhando para aquele período e, claro, com certa consciência da preparação para as provas, reconheço que deveria ter ido aumentando as distâncias, aos poucos: 12, 14, 16 km. Tinha tempo e disponibilidade para isso. Por que eu tinha que ir com tanta sede ao pote? O que estava faltando? A resposta para a última pergunta deixarei para outro momento da nossa jornada.

 

Foco

 

Não sei se isso acontece com você, mas às vezes surge uma necessidade de ajustar as lentes diante de um obstáculo. No meu caso, aprendi a criar micro desafios que, de alguma forma, contribuem para a afinação dos tons da vida cotidiana.

 

Em termos práticos, era urgente que eu voltasse a treinar de modo regular. Para isso, criei o #desafiolec: ler / escrever / correr. Uma tríade que, naquele momento, foi uma espécie de norte das ações essenciais na vida de um escritor, professor, que se preparava para a Volta Internacional da Pampulha.

 

A partir daquele momento, comecei a conversar com pessoas que estão na pista há mais tempo. Fui atrás de recomendações, dicas rápidas, quantidade de treinos às vésperas da prova, entre outras questões. Desse contexto de primeiras lições, recordo-me do apoio do Marcelo Camargo, professor de Geografia, autor da máxima "Cama boa é asfalto quente". Com ele, ficou evidente: as orientações, a energia e o entusiasmo são contagiantes.

 

De forma tímida e bem acanhada, quem entrou na minha vida também nessa época foi o João Eustáquio, professor de Educação Física. Quando soube do interesse pela prova, passou a me apoiar de modo discreto, com uma pergunta sempre que nos encontrávamos nas dependências da escola: "Já treinou HOJE?" Independentemente da resposta, ele sempre tinha uma palavra amiga e necessária para somar.

 

E foi assim, nesse novo ritmo, dentro das minhas condições, que segui até o dia do Desafio, que estava muito próximo de acontecer. Aquele certo frio na barriga, mas essa experiência eu só vou contar no próximo episódio, combinado?

 


 

Ah, como eu gostaria que este fosse um episódio incrível, semelhante ao da última estação; mas a coisa foi para o outro lado. Que fique claro: a corrida é da vida real, cheia de desafios. E sim, haverá aquele dia em que tudo dará errado, conforme o ditado: "Nada está tão ruim que não possa piorar."

 

Por conta de uma cirurgia já agendada, minha companheira Estela teve que me abandonar logo no início do segundo semestre. E tudo bem, pois isso vai acontecer com você também. Quantas cirurgias surgiram depois que comecei a correr? Nesses momentos, não há como treinar e resta apenas paciência.


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Agora, vamos ao que antecipa, ou melhor, sinaliza o título: a "quebradeira". Depois de vencer os 10 km, pensei que estivesse preparado para alcançar outros níveis. Apenas pensei.

 

No restante de julho, em pleno recesso escolar, viajei para o interior de Minas. Lá, encontrei aquela culinária indescritível da casa da mamãe e das tias. Somou-se a isso o afastamento da academia. A regularidade dos treinos subiu para o telhado, e o resultado você já imagina.

 

Ainda no período de descanso, pesquisei o calendário de provas, e empolgado, fui lá e me inscrevi numa corrida de 16 km – a da Polícia Rodoviária Federal, agendada para 1º de setembro de 2019. Pela primeira vez, uma prova seria em Contagem, na cidade onde moro.

 

Erros

Assim que o recesso acabou, voltei com tudo para a academia. Ingênuo, imaginei que em um mês conseguiria recuperar a forma. Novamente, inocente, para não dizer "imbecil", fui para a prova com um tênis novo, de procedência duvidosa. Caí na besteira de aproveitar a promoção, e mais anta ainda foi ter estreado o calçado no dia da corrida.

 

Para começar, estava um dia daqueles: um tempo muito abafado, sem nenhum resquício de sombra. A hidratação parecia insuficiente, e eu não tinha treinado para uma prova tão desafiadora. Lá pelos 4 km, o tênis começou a machucar.

 

Recordo-me que, no meio de toda aquela luta, passou um grupo de senhores com a camisa da equipe "Fósseis do Asfalto", em um ritmo cadenciado que parecia cena de filme. Os velhinhos deram um show e nos mostraram como se deve fazer. Fomos humilhados pela falta de preparo e concentração. Por outro lado, fica a inspiração: quero chegar àquela idade com aquela saúde e entrega!


O fim:


Resultado: eu, que tinha me inscrito para correr 16 km, terminei a prova nos 8 km, caminhando... com os tênis nas costas, pé cheio de bolhas, desidratado e com aquela grande vontade de só chegar em casa e repensar todos aqueles deslizes. 

 


 


Um dia favorito da semana, quem não tem?

 

Tem gente que tem até mais de um, dois, três…

 

E quando a gente se depara com o título “Todos os dias, menos terça-feira”?

 

Um montão de ideias surge na hora. Uma curiosidade daquelas.

 

Não pensei duas vezes e me joguei na leitura dessa obra de Andreza Félix, com ilustrações de Faw Carvalho.

 

Já nas primeiras páginas, a gente conhece Ana, a menina que “detestava todos os dias da semana, menos terça-feira”.

 

Ela esperava ansiosamente por esse dia, contando as horas. Mas não era porque o pai ia almoçar em casa ou porque não tinha aula à tarde. Não.

 

Terça-feira era o dia de “olhar o cabelo no espelho e vê-lo pronto”.

 

Era o dia de trançar o cabelo, de deixá-lo “cheiroso e prontinho”. Era o dia da conversa, das gargalhadas, das comidas gostosas. Era dia de festa com bolo, café, de sentar-se no quintal, dia de ouvir e contar histórias.

 

Porém, chega o dia em que Dona Vitória, a mãe de Ana, adoece, e a trajetória da menina toma outro rumo.

 

Para saber o que acontece, só lendo essa linda obra...

 

Eis um livro sobre autoestima, cuidado entre mãe e filha, com linhas importantes para se pensar na nossa ancestralidade.

   

DETALHES:

 Livro: Todos os dias, menos terça-feira

Autora: Andreza Félix

Ilustradora: Faw Carvalho

Editora: MRN


Por passar um certo tempo com as obras de um artista, a gente vai sendo contaminado, ficando doente.

 

Bastou a pergunta de uma jovem estudante para que eu me desmanchasse em incertezas. A pergunta?

 

“Por que nem sempre é tempo de ler Clarice Lispector?”

 

Às vezes, as palavras apenas surgem como tinta, em cores ainda sem nome, à disposição na paleta de um pintor expressionista.

 

Leio para me despertar de sonhos intranquilos da noite imprecisa que se estende por muitas semanas.

 

Leio para voltar à superfície, frágil, mesmo deixando as raízes dos meus dilemas à mostra.

 

Leio por estar cansado de fugir. Existir dói menos que pensar. Leio para encontrar uma gota de força na rua do reencontro. 


Leio e escrevo porque preciso me reencontrar.

 

Será que com essas linhas de nuvem eu consegui responder?

 

A chegada da nova estação nos encheu de otimismo e garra. Para minha surpresa, eu estava conseguindo conciliar treino de corrida, atividades da academia e a vida de professor. A alegria proporcionada por aquela sensação era, até então, inexplicável. Nunca tinha vivido tal experiência no contexto de exercício físico.

 

Entusiasmado com os novos ventos, era hora de subir o sarrafo e avançar um pouco em direção ao Desafio. Com mais segurança, advinda dos treinos regulares, eu e minha companheira Estela nos inscrevemos na corrida do Hospital Santa Casa BH, marcada para o dia 7 de julho de 2019.

 

Na pista, com os treinos em dia e temperatura agradável, estávamos ansiosos para correr nossos primeiros 10 km. A energia, o envolvimento das pessoas, tudo naquela prova era muito distinto. Mas por quê?

 

A começar pela causa: a luta contra o câncer. A renda era destinada ao tratamento de pacientes e às obras do Instituto de Oncologia SCBH. Em razão disso, muitos participantes fantasiados de super-heróis acompanhavam crianças em cadeiras de roda, em um ritmo de festa, alegria e aventura.

 

E lá, na linha de chegada, nós tínhamos a certeza de ter concluído uma prova com sucesso. Sentimos gratidão por todos os aspectos: clima, preparação, ritmo e energia. Entregamos nosso melhor! Eis uma daquelas provas que deixou saudade.

 


 



Há personagens com quem a gente gostaria de passar um tempo. Concorda?

 

Que fosse para tomar um suco de laranja, uma xícara de chá ou café. Comer uma fatia de bolo. Quem sabe?

 

Um momento para conversar sobre as coisas simples da vida. Imagina?

 

Conhecer as manias, crenças e sonhos de cada um. O jeito que andam e trocam ideias. Entende?

 

Mais do que conversar com esses personagens, o gostoso mesmo deve ser ouvir as histórias que eles têm para contar.

 

Todas essas experiências (e outras) eu vivi lendo a obra “Jiddo”, escrita por Daniella Michellin e ilustrada por Paula Schiavon, uma publicação da editora Abacatte.

 

É impossível não ficar fascinado com a menina Lúcia e Jiddo, seu avô – um imigrante com um tantão de aventuras.

Os diálogos, as tradições, os passeios pelo bairro, a praia no final de semana e, na hora de dormir, as histórias!

 

Conforme disse a amiga Sandra Assis: “Jiddo é um livro irresistível!”

 


DETALHES:

 Livro: Jiddo

Autora: Daniella Michellin

Ilustradora: Paula Schiavon

Editora: Abacatte




 "Porque o silêncio em si é como o som dos diamantes que podem cortar tudo!” escreveu Jack Kerouac. Arrisco-me a afirmar que o porta-voz da Geração Beat, do final dos anos 1950, tinha consciência do alcance do seu timbre nas gerações futuras.

 

Primeiras constatações foram o impacto sobre a contracultura e o movimento Hippie da década seguinte. Embora seja um escritor muito conhecido, sobretudo pela publicação da obra "On the Road" (Pé na Estrada, 1957), que ainda não li, escolhi ficar apenas com a frase inicial. Em alguns momentos, uma frase basta, em outros, uma palavra.

 

Se possível, releia-a mais uma vez, antes de seguir. O mundo contemporâneo não tem lidado muito bem com os tempos de silêncio. Em certos contextos, quaisquer segundos sem som representam uma batalha.

 

A impressão é de que fazer silêncio, calar-se diante daquilo que a gente não sabe, não conhece, silenciar-se para ouvir melhor, tem sido cada vez mais difícil.

 

Parece-me que só vale o silêncio dos outros, a recusa, o afastamento. Cansei dos gritos das redes na artificialidade das telas. Cada vez mais venho apreciando o silêncio dos encontros e a paz das descobertas.


Nesse templo, apreciar os sons do silêncio pode nos levar para outras terras dessa comparação: som dos diamantes/silêncio. E bendito seja o livreiro Paulo Fernandes que, na manhã de domingo, nos trouxe Jack Kerouac!

 

A partir dessa citação, nossa! Uma série de representações do silêncio foram pousando nas páginas azuis da minha rotina. Porque além do poder de cortar que nem diamante, o silêncio tem peso.

 

Porque há o silêncio que nos derruba e o que nos levanta, o da poeira e o da lama. Não sei por que, mas sempre imaginei a eternidade como uma das dimensões do silêncio. Tá vendo aí, Paulo? Olha só pra onde a gente está indo...

 

E por fim, ou o início de um sim para as singularidades do silêncio – contrariando – quero que fique com uma cena: o estouro de uma bolha de sabão diante das asas de um beija-flor.


... farelos por aí ... 

 

 

A recuperação do joelho e os treinos regulares na academia foram importantes para pensar, pelo menos, o primeiro semestre do ano a que me propus a vencer desafio dos 18 km – Volta Internacional da Pampulha.


Com treinos regulares, nada de muitas exigências. Isso porque eu não seria louco de ficar brincando com o joelho. Companheira Estela avisou que teria uma prova no final de março, mais precisamente no dina 30/03/2019. “Bora lá!” Praticamente o mesmo percurso da estreia, porém a corrida de Sant Patrick’S tinha um diferencial, era noturna. Quase no mesmo ritmo, conseguimos correr os 05 km.


Não sei se foi benção do santo, mas na manhã seguinte, comecei a sonhar com outras distâncias. Imediatamente fiz contato com a Estela a respeito das próximas provas. Na academia, os professores deram o maior apoio, inclusive, reforçando a importância da regularidade.


De 5 para 8, em menos de 90 dias? Guardadas as devidas proporções de juízo, hoje reconheço que não devia ter ido tão rápido assim; porém é isso que você deve estar imaginando. No dia 19/05/2019, eu e Estela estreamos nos 08 km no Corrida Santander.  Por mais que fosse um percurso plano, não foi uma prova assim tão simples. Faltou preparo, não em relação à academia, mas outro de que trataremos, ao longo da jornada.


O que nos aguardava na próxima estação?  


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